Aceitamos a obrigação de pregar tudo que está na Palavra de Deus,
de modo definido e distinto. Será que não há muitas pessoas que pregam sem
significado claro, manuseando a Palavra de Deus de maneira enganosa? Você
frequenta o ministério deles durante anos e não sabe no que creem. Ouvi falar
de certo pastor cauteloso, a quem um ouvinte perguntou: "Qual é sua visão
da expiação?". E ele respondeu: "Meu caro senhor, justamente isso, eu
nunca contei a ninguém, e não vou dizer agora". Essa é uma estranha
condição moral para a mente de um pregador do evangelho. Temo que ele não seja
o único que tem esse tipo de relutância. Dizem que eles consomem sua própria
fumaça, isto é, guardam suas dúvidas para o consumo caseiro. Muitos não ousam
dizer no púlpito o que dizem em particular de pastores. Isso é honesto?
Mas se por essa ou qualquer outra razão ensinamos com língua
dissimulada, o resultado é extremamente prejudicial. Ouso citar aqui uma
história que ouvi de um amado irmão. Um pedinte bateu à porta da casa de um
pastor para conseguir dinheiro com ele. O bom homem não gostou muito da
aparência do pedinte e lhe disse: "Eu não me interesso por seu caso e não
vejo nenhuma razão especial por que você deva vir a mim". O pedinte
respondeu: "Estou certo que você me ajudaria se soubesse que grande
benefício tenho recebido de seu ministério abençoado". O pastor retrucou:
"E qual foi?". O pedinte respondeu: "Ora, senhor, quando eu primeiro
vim ouvi-lo não ligava nem para Deus nem para demônio, mas agora, sob seu
abençoado ministério, passei a amar os dois". Que maravilha se por causa
da fala volúvel de alguns homens, as pessoas viessem a amar tanto a verdade
como a mentira! As pessoas dirão: "Gostamos dessa doutrina e da outra
também". O fato é que gostariam de qualquer coisa caso um enganador
esperto pusesse isso plausivelmente diante deles. Admirariam Moisés e Aarão,
mas não diriam uma palavra contra Janes e Jambres.
Não nos uniremos
à confederação que parece visar tal compreensão. Precisamos pregar o evangelho
de modo tão distinto que as pessoas saibam o que estamos pregando. "Se a
trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha?" (1Co
14.8). Não confunda seu povo com falas duvidosas. Alguém disse: "Bem, eu
tive uma ideia nova um dia desses. Não a expandi; joguei-a fora!". Essa é
uma coisa boa para fazer com a maioria de suas ideias novas. Lance-as fora,
sim, de qualquer maneira, mas veja onde você está quando o faz; porque se você
lançá-las do púlpito, podem acertar alguém e ferir a fé da pessoa. Lance fora
suas ideias, mas primeiro navegue sozinho em um barco por mais de um quilômetro
mar adentro. Depois que você tiver jogado ali suas cruas bagatelas, deixe-as
com os peixes.
Hoje, temos a nossa volta uma classe de
homens que pregam Cristo e até o evangelho, mas depois eles pregam muitas
outras coisas que não são verdade e assim destroem todo o bem que entregam e
levam os homens ao erro. Eles querem ser classificados como
"evangélicos" e, na verdade, são antievangélicos. Olhe bem para esses
senhores. Ouvi dizer que uma raposa, quando acossada de perto pelos cães sabe
fingir que é um deles e corre com a matilha. Isso é o que certos homens visam
hoje: as raposas querem passar por cães. Mas no caso da raposa, seu cheiro
forte a trai, e os cães logo a descobrem, do mesmo modo, o cheiro da doutrina
falsa não é facilmente ocultado, e a presa não a segue por muito tempo. Há
ministros que é difícil saber se são cães ou raposas; mas todos os homens devem
saber de que espécie somos ao longo de nossa vida e não ter dúvida em relação
àquilo que cremos e ensinamos. Não hesitemos em falar nas palavras mais
robustas que possamos encontrar e nas sentenças mais claras que pudermos formar
aquilo que mantemos como verdade fundamental.
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