Temos chegado agora a uma
região onde os prodígios, as maravilhas, as surpresas, são a ordem
rotineira do dia: o sublime volta-se em lugar comum quando entramos no
círculo do amor eterno.
Sim, mas ainda; agora
abandonamos a sólida terra do possível, e nos adentramos no mar, onde vemos
as obras do Senhor, e Suas
maravilhas nas profundezas.
Quando pensamos no impossível em
outras áreas, começamos a
retroceder: porem, o caminho arde nas
chamas do divino, e logo
percebemos que “para Deus tudo é
possível.” Vejam, então, na
morte de Jesus, a possibilidade do
impossível! Vejam como o
Filho de Deus pode morrer.
Algumas vezes nos vemos
obrigados a fazer uma pausa quando
encontramos com uma expressão
em algum hino, que implica que
Deus pode sofrer ou morrer; consideramos
que o poeta usou uma
licença poética
demasiadamente grande: no entanto, é conveniente
que nos refreamos de ser
hipercríticos, já que nas Santas Escrituras
há palavras como essas.
Inclusive lemos (Atos 20:28) sobre a “igreja do Senhor, a qual ele
resgatou por seu próprio sangue.” O sangue de Deus! Ah! Não me preocupa
defender a linguagem do Espírito Santo; porem, em sua presença
tomo a liberdade de justificar as palavras que cantamos a
poucos instantes:
“Bem faz o sol ao esconder-se
nas trevas,
E ocultar todas as glórias,
Quando Deus, o poderoso
Criador, morreu
Pelo homem, pelo pecado da
criatura”
Não me atreverei a explicar a
morte do Deus encarnado. Basta-me
crer nela, e depositar minha
esperança nela.
Como pode o Santo carregar
com o pecado?
Tampouco sei.
Um homem sábio nos disse,
como se fosse um axioma, que a imputação ou a não imputação do pecado
é uma impossibilidade. Que pense o que quiser: já nos
familiarizamos com tais coisas desde que olhamos para a cruz. Para nós, as
coisas que os homens qualificam de absurdas se converteram em
verdades fundamentais. A doutrina da cruz é loucura aos que se
perdem.
Sabemos certamente que em nosso
Senhor não houve pecado, no entanto, Ele levou nossos pecados sobre Seu próprio
corpo, no madeiro. Não sabemos como o inocente Filho de Deus pode sofrer por
pecados que não eram seus; surpreende-nos que a justiça permita que Alguém tão
perfeitamente santo seja desamparado por Seu Deus e seja levado a clamar “Eloi,
Eloi, Lama Sabactani?” Porem, assim aconteceu, e tal por decreto da mais
excelsa justiça; e nos alegramos por isso.
Como aconteceu com o eclipse
do sol, assim Jesus fez coisas por nós, nas agonias de Sua morte, que no juízo
comum dos homens, devem ser consideradas como completamente impossíveis.
Nossa fé se sente em casa na
terra das maravilhas, onde os
pensamentos do Senhor
encontram-se tão altos sobre nossos
pensamentos, assim como os
céus são mais altos que a terra. Em
relação a esse milagre, tenho
que assinalar também que esse
escurecimento do sol
sobrepassou todos os eclipses ordinários e naturais.
Esse durou muito mais que um
eclipse ordinário, e se apresentou de
uma forma diferente.
Segundo Lucas, veio primeiro
a escuridão sobre toda a terra, e o sol escureceu depois: as trevas não começaram
com o sol, antes, se sobrepuseram ao sol.
Foi único e sobrenatural. Agora, entre todas
as dores, nenhuma dor é comparável a dor de Jesus: de
todas as aflições, nenhuma corre
paralela às aflições de nosso
grandioso Substituto.
Da mesma maneira que a luz
mais poderosa projeta a sombra mais
profunda, assim o
surpreendente amor de Jesus custou-lhe uma
morte que não é a sorte comum
dos homens.
Outros morrem, porem esse
homem é “obediente até a morte.”
Outros bebem o gole fatal, no
entanto, não precisam tomar nem de seu amargo nem de seu fel; Todavia, Ele
“experimentou a morte.” Cada parte de Seu ser foi escurecida com essa
extraordinária sombra de morte; e a escuridão natural externa foi somente para
cobrir uma morte especial que eram inteiramente única.
E agora, quando penso nela,
essas trevas parecem ter sido perfeitamente naturais e adequadas. Se tivéssemos
que escrever a história da morte de nosso Senhor, não poderíamos omitir as
trevas sem deixar de lado um elemento muito importante.
As trevas parecem ser uma parte
dos componentes naturais dessa grandiosa transação. Leiam toda a história e não
estarão surpresos por essas trevas; depois que a mente de vocês se familiarize
com o pensamento que esse é o Filho de Deus, e que Ele estende Suas mãos à
cruel morte de cruz, não estarão maravilhados quando o véu do templo se rasgue;
nem surpreendidos pelo terremoto ou pela ressurreição de alguns mortos. Essas
coisas são coadjuvantes adequadas da paixão de nosso Senhor; as trevas
também são. Desempenham seu próprio papel, e aparenta que não
teriam possibilidade de ser de maneira diferente:
“Esse sacrifício! A morte
Dele,
O Altíssimo e por sempre
Santo!
Que os céus se apagam está
muito certo,
E que se torne negro o brilho
do sol.”
Reflitam por um momento. Não
lhes pareceu como se a morte que
essas trevas envolviam eram
também uma parte natural do
grandioso todo?
Por fim chegamos a sentir
como se a morte do Cristo de Deus fosse uma
parte integral da história humana. Não se pode eliminá-la da crônica do
homem; ou será que pode?
Introduza a Queda, e olhe o
Paraíso Perdido, e não pode completar o poema até que tenham introduzido esse
Homem mais grande ainda que nos redimiu, e que por meio de Sua morte nos deu o
Paraíso Restaurado.
É uma característica singular
de todos os verdadeiros milagres, que
ainda que sua surpresa não
termine nunca, jamais se percebem
como anti-naturais: são
maravilhosos, porem, jamais monstruosos.
Os milagres de Cristo se
encaixam no curso natural da história
humana: não podemos ver como
o Senhor poderia estar na terra, e
que Lázaro não houvesse sido
ressuscitado dos mortos quando a
dor de Marta e Maria fora
expressa de maneira tão comovedora.
Não podemos perceber como os
discípulos poderiam ter sido
sacudidos pela tormenta no
Mar da Galiléia e que o Cristo não
caminhasse sobre as águas
para libertá-los.
Maravilhas de poder são elementos
esperados em seu lugar com as circunstâncias que as rodeiam.
Porem, os milagres de Jesus,
e esse das trevas entre eles, são
essenciais para a história
humana; e esse é de forma especial, no
caso de Sua morte e essas
grandes trevas que a envolveram.
TEM CONTINUAÇÃO.
FACEBOOK DO EDITOR
Nenhum comentário:
Postar um comentário