Não me surpreende que existam
tradições de coisas estranhas que
foram ditas no silêncio
dessas trevas.
Esses sussurros do passado
podem ou não ser verdadeiros;
foram tema de controvérsia dos
estudiosos, porem o esforço
da disputa foi energia mal gasta.
No entanto, não nos surpreenderia
que alguém tenha dito, como
afirmam alguns repórteres:
“Deus está sofrendo ou o
mundo está perecendo.”
Nem irei eliminar de minhas crenças a lenda
poética que afirma que o piloto egípcio de um barco, navegando rio abaixo entre
seus bancos cheios de juncos, escutou uma voz que saia da sussurrante flora,
dizendo:
“O grandioso Pão morreu.”
Em verdade, o Deus da
natureza estava expirando, e coisas ainda mais ternas que os juncos da
ribanceira tremeriam diante desse som.
Somos informados que essas
trevas cobriram toda a terra; e Lucas
diz:
“sobre toda a terra.”
Essa parte de nosso globo na
que correspondia à noite natural, não foi afetada; porem, para todos os homens
que estavam despertos, e que se encontravam em seus trabalhos, era o aviso de
um grandioso e solene evento.
Era estranho além de toda
experiência, e todos os homens se maravilharam; pois, quando a luz devia de ter
tido maior brilho, todas as coisas foram escurecidas pelo espaço de três horas.
Deve existir um grande ensino
nessas trevas; pois quando nos
aproximamos da cruz, que é o
centro da história, cada evento está
repleto de significado.
Luz saltará dessas trevas.
Amo sentir a solenidade das três horas de
sombras de morte, assentar-me ali e meditar, sem nenhuma companhia, exceto ao
Augusto Sofredor, em cujo redor desceram as trevas.
Irei apresentar quatro
pontos, segundo o Espírito Santo me guie. Primeiro, inclinemos nossos espíritos
na presença de um milagre que nos assombra; em segundo, consideremos essas
trevas como um véu que esconde; em terceiro, como um símbolo que instrui; e em
quarto lugar, como um demonstração de simpatia, que nos serve de advertência
pelas profecias que implica.
I.
Em
primeiro lugar,
contemplemos essas trevas
como
UM MILAGRE QUE NOS ASSOMBRA.
Poderia parecer uma
observação de rotina o fato de que essas trevas estavam completamente fora do curso
natural das coisas.
Desde que o mundo começou,
nunca se ouviu que em pleno meio dia, houvera tido trevas sobre toda a terra.
Isso estava completamente
fora da ordem da natureza.
Algumas pessoas negam os
milagres; e se também negam a Deus, de pronto não irei me dirigir a elas.
Mas seria muito estranho que alguém que cresse
em Deus, duvidasse da possibilidade dos milagres.
Parece-me que, aceitando a
existência de Deus, os milagres devem ser
esperados como uma declaração
ocasional de Sua independência e
de Sua vontade ativa.
Ele pode estabelecer certas
regras para Suas ações, e em Sua sabedoria apegar-se a elas; mas certamente
deve reservar para Si mesmo a liberdade de apartar-se de Suas próprias leis, ou
do contrário, em certa medida, haveria abandonado Sua Deidade pessoal, teria
deificado a lei, colocando-a acima de Si mesmo.
Não acrescentaria em nada
nossa ideia da glória de Sua Deidade, se
pudesse nos assegurar que Ele
se fez a Si mesmo o sujeito da regra,
atando Suas mãos para não
atuar jamais exceto de certa maneira
específica.
Da auto-existência e completa
liberdade da vontade que entram em nossa mesma concepção de Deus, somos levados
a esperar que algumas vezes Ele não deva se apegar aos métodos que segue como
Sua regra geral.
Isso levou à convicção
universal que os milagres são uma prova da Deidade.
As obras gerais da criação e
da providência são as melhores provas segundo entendo: porem, o coração geral
de nossa raça, por uma razão ou outra, olha os milagres como uma evidência mais
segura; demonstrando dessa forma que de Deus se espera os milagres.
Ainda que o Senhor estabeleça
em Sua ordem que haja dia e noite,
Ele, nesse caso, com
abundante razão interpõe três horas de noite no
meio do dia.
Observem a razão.
O inusitado na natureza inferior é levado a
harmonizar-se com o inusitado nos tratos do Senhor da natureza. Certamente esse
milagre era sumamente congruente com esse milagre ainda maior que estava tendo
lugar na morte de Cristo.
Por acaso não estava o
próprio Senhor apartando-se de todas as
formas normais?
Não estava fazendo isso que
jamais havia feito desse o principio, e que jamais seria feito novamente?
Que os homens morram é algo
tão comum, que é considerado inevitável.
Não nos surpreende o som dos
sinos dobrando nos campanários em
um funeral: familiarizamo-nos
com a tumba.
Conforme os companheiros de
nossa juventude morrem ao nosso
lado, já não somos tomados
pela surpresa; pois a morte está em todo
nosso derredor e dentro de
nós. Porem, que o Filho de Deus morra,
isso está mais alem de toda
expectativa, e não só por acima da
natureza, mas até mesmo
contrário a ela.
O que é igual a Deus, suspende
numa cruz e morre.
Não sei que outra coisa
poderia parecer mais fora de toda regra e mais além de toda expectativa que isso.
Que o sol se tenha escurecido
ao meio dia é um acompanhamento adequado à morte de Jesus.
Por acaso não é assim?
Mais ainda, esse milagre não
somente estava fora da ordem natural,
mas também é um milagre que
se teria considerado impossível.
Não é possível que se tenha
um eclipse de sol quando há lua cheia.
Quando a lua está cheia, não
está em uma posição na que possa
projetar sua sombra sobre a
terra.
A Páscoa dos judeus ocorria
na lua cheia, e, portanto não era possível que houvera um eclipse solar.
Esse escurecimento do sol não
foi estritamente um eclipse
astronômico; sem dúvida a
escuridão se fez de outra forma: no entanto, para aqueles que estavam ali
presentes, certamente pareceu
ser um eclipse total do sol:
algo impossível.
Ah irmãos! Quando tratamos
com o homem, com a queda, com o
pecado, com Deus, com Cristo,
e com a expiação, encontramos que
as impossibilidades habitam
juntas como em uma casa.
TEM CONTINUAÇÃO.
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